28 de março de 2012

@DDITO - Boletim da XVII JORNADA EBP-MG - 01


@DDito

Boletim da XVII Jornada da EBP-MG – n.01

2012 é um ano político! Ao analista lacaniano impõe-se a tarefa de analisar a lógica de seu tempo e estar à altura de sua época. Frente as políticas entorpecentes e segregativas que proliferam-se no campo social, é o momento, é o lógico, da psicanálise lançar sua palavra na arena pública e tornar-se agora uma força material, uma força política.

A Escola Brasileira de Psicanálise/Seção Minas Gerais lança a sua XVII Jornada – A política da psicanálise na era do direito ao gozo – um convite para adicionarmo-nos aos debates que interrogam a política contemporânea nas cidades.

Teremos a honra de receber Agnès Aflalo como nossa convidada internacional, colega da ECF. Ela animará um vivo debate sobre a Psicanálise e a Política, no século XXI, e ainda, realizaremos o 1° Fórum de Orientação Lacaniana da EBP-MG: “Drogas: para além da segregação”. A psicanálise de orientação lacaniana toma a palavra e se posiciona frente aos impasses da civilização.

Este ano, a XVII Jornada da EBP-MG acontecerá no centro da cidade de Belo Horizonte, no Espaço CentoeQuatro, lugar que abrigou a antiga fábrica “104 Tecidos”. .

Seja bem-vindo e participe.

Adicione-se à nossa Jornada!

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A política da psicanálise na era do direito ao gozo

O empuxo do Um se traduz sobre o plano político pela democracia a mil por hora: o direito de cada um a seu próprio gozo torna-se um ‘direito humano’. Em nome de quê meu gozo seria menos cidadão que o seu? Isso não é mais compreensível. É também porque o modelo geral da vida cotidiana no século XXI é a adição. O Um goza todo só com sua droga, e toda atividade pode tornar-se droga: o esporte, o sexo, o trabalho, o smartphone, o facebook. J -A.MILLER

Lacan ensina “que não há discurso – e não apenas o analítico – que não seja do gozo.” O direito ao gozo tornou-se uma questão de interesse público, um fato político. A democracia não existe sem o discurso da promessa de felicidade ao alcance de todos. A idéia do “para todos”, como sintagma fundador das políticas públicas, agencia a distribuição igualitária dos objetos e usufruto dos direitos, fazendo o discurso capitalista girar sua manivela. Objetos e políticas são fabricados em escalas industriais, ao gosto do freguês. Frenesi do consumo! É cada um por si e ninguém por todos!

Como fenômeno de massa, vimos surgir aglomerados de Um(s) sozinhos que vivem da vantagem de não precisar de ninguém, de não ter que responder a nenhuma instituição, a nenhum ideal, missão, grupo ou causa em particular. Cada Um por si quer mais gozar do pedaço prometido para todos, o que muitas vezes se traduz na dispensa do laço ao Outro e da curva do desejo frente ao elemento invariável que faz de cada um uma exceção. Levam a vida ao seu modo, desinibido na solidão de seu gozo e liberado de qualquer ideologia. As identificações vão caindo em desuso, os líderes e ideais estão cada vez mais em falta nesse mercado. No trono civilizatório não está sentado o rei, a ideologia, o algoritmo. O objeto reina absoluto no zênite social.

Em resposta à proposta homogeneizante da política contemporânea recolhemos a violência, as compulsões, as depressões, as desinibições e toda sorte de acontecimentos de corpo e desamarrações que apresentam-se na clínica de nossos dias. Para tratar disso, as engrenagens da democracia movimentam-se, a mil por hora, buscando eliminar os novos sintomas através de um “novo higienismo” que, ao servir-se dos critérios da falsificação científica, revela-se o grande produtor de campos de segregação, como Lacan previra.

Então, a política!

O que pode a política da psicanálise na era do direito ao gozo e das políticas segregativas? Como a psicanálise pode intervir na cena atual da vida social? Como converter sua força material numa força política em condições de resistir ao empuxo homogeneizante do Outro social?

Para a psicanálise, cada sujeito é único, bem como seu modo de gozo. A causa do desejo é sem igual. Podemos dizer que a psicanálise luta, à sua maneira, para que cada um possa encontrar no horizonte da experiência analítica seu elemento invariável, tornar-se responsável pelo seu modo de vida, o mais singular possível.

Frente à lógica do “para todos” que entorpece a política contemporânea, a psicanálise lacaniana orienta-se pela lógica do “não-todo”, zelando para que a abertura ao singular tenha cabimento na gramática das cidades. A exceção interessa à experiência analítica, na medida em que é com isso que o sujeito se aloja na brecha entre a ordem regente de uma época e a sua vida, como ela é. A psicanálise, por sua história, por seu projeto, por seu lugar na margem e na travessia dos séculos, das ideologias, dos saberes, das línguas e dos discursos, não seria ela mesma a guardiã da exceção?

Frente ao empuxo homogeneizante da civilização atual – que, paradoxalmente, faz obstáculo ao laço social – lançamos nossa aposta no desejo de trabalho da nossa comunidade de orientação lacaniana, convidando a testemunhar o que pode A política da psicanálise na era do direito ao gozo. Tema que nos reunirá em torno da XVII Jornada da EBP-MG.

O Boletim @DDito vai nos acompanhar até outubro, trazendo notícias, textos, comentários, entrevistas, etc., a fim de acolher os avanços do programa rumo à nossa Jornada. Aguardamos as suas contribuições a esse debate.

Até breve,

Fernanda Otoni de Barros-Brisset

Coordenadora da XVII Jornada da EBP-MG

PS: Curta e siga o @DDito. Addicione-se! http://jornadaebpmg.blogspot.com/

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Comissões da XVII Jornada da EBP-MG

Cientifica - Cristiana Pittela, Fernanda Otoni, Frederico Feu de Carvalho, Henri Kaufmanner, Jesus Santiago, Lilany Pacheco (Coordenadora), Ram Mandil, Simone Souto.

Divulgação - Andrea Guerra, Adriane Barroso, Bernardo Malamut, Cristiane Barreto (Coordenadora), Delcio Fonseca, Ernesto Anzalone, Fabrício Ribeiro, Maira Freitas, Miguel Antunes, Samyra Assad.

Infra-estrutura - Ana Elisa Maciel, Andrea Aguiar, Daniela Pinto, Fernando Casula, Graciela Bessa, Laura Rubião, Luciana Silviano Brandão (Coordenadora), Marcelo Quintão, Márcia Mezêncio, Maria Wilma Faria

Livraria - Débora Matoso, Fernanda Costa, Mônica Campos (Coordenadora), Priscila Arantes, Raquel Marinho

Patrocinio - Joanna Ladeira, Maria Inacia Freitas, Miguel Antunes (Coordenador), Renata Dinardi, Virginia Carvalho.

Tesouraria - Alessandra Rocha (Coordenadora), Helenice Castro, Maria Aparecida Farage.

Consultores Ad Hoc- Antônio Beneti, Célio Garcia, Elisa Alvarenga, Maria Wilma Faria, Raquel Botrel, Samyra Assad, Sérgio de Castro

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PROGRAMA POLÍTICO E EPISTÊMICO DA XVII JORNADA DA EBP-MG

Como sempre acontece em nossas Jornadas, trataremos do tema proposto através da apresentação de trabalhos dos colegas em plenárias, salas simultâneas, bem como através da enunciação viva da política da psicanálise transmitida pelos testemunhos dos AEs na plenária do passe.

Temos novidades!

Nossa Jornada irá inaugurar dois momentos políticos fundamentais, marcando presença da psicanálise de orientação lacaniana no debate contemporâneo.

No dia 26 de outubro acontecerá o primeiro Fórum de Orientação Lacaniana da EBP-MG, provocado pela questão de como a psicanálise pode contribuir ao debate: “Drogas: para além da segregação”.

No dia 27 de outubro realizaremos uma entrevista, ao vivo, com nossa convidada internacional Agnès Afalo, onde sustentaremos uma conversa animados pelo tema “Psicanálise e Política no século XXI”.

Curta e siga o @DDito, nosso Boletim. Estaremos atualizando e postando maiores informações sobre os acontecimentos políticos que terão lugar em nossa XVII Jornada e desdobraremos as discussões sobre os eixos de investigação que orientam nosso Programa.

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EIXOS DE INVESTIGAÇÃO

Nos dias 26 e 27 de outubro de 2012, nosso encontro promete acontecer de modo vivo e animado por todos e cada um, ao seu modo. Propusemos quatro eixos de investigação que formam um programa de trabalho a ser desdobrado e desenvolvido ao curso desse ano, rumo à nossa XVII Jornada da EBP-MG.

I – A política do “para todos” e a exceção do sinthoma. Interrogaremos com esse eixo o empuxo à homogeneização dos modos de gozo nas democracias atuais e suas conseqüências clínicas. Sabemos que esforços de normatização dos modos de ser curado, educado, amado, controlado, punido, etc., segundo protocolos avaliativos e classificatórios, tem sido o norte de diversas políticas públicas dirigidas aos campos da educação, da justiça, ao sistema único de saúde e da assistência social. A exceção a essa regra tem sido objeto da faxina dessa política que visa a assepsia universal via um “novo higienismo”. A ação política da psicanálise, nas cidades, intervém em favor da condição excepcional e contingente com que cada sujeito responde ao sufoco do delírio de homogeneidade de sua época. Como resposta ao real, o sujeito é uma solução que encontra um lugar para a exceção de seu modo de gozo numa amarração singular - o sinthoma. Aguardamos os trabalhos em condições de demonstrar, na apresentação de situações ou casos clínicos, a resposta e manejo da psicanálise de orientação lacaniana frente às políticas homogeneizantes, na era em que o direito ao gozo tornou-se um direito humano.

II - O inconsciente é a política – Este eixo nos convida a conversar sobre as relações entre “a política” e o sujeito do inconsciente, na civilização atual. O inconsciente é a política na medida em que os semblantes da ficção civilizatória servem à ligação entre o UM e o Outro, através de múltiplos conectores. Porém, com a subida do objeto ‘a’ ao zênite da vida social, desbotaram as crenças nas rotinas da vida coletiva e os ideais não mais agregam multidões entorno de si. As identificações estão em desuso e as ficções vacilam. Sem essa liga, o Um goza sozinho, sem mandato representativo. O laço é fugaz, liga-desliga, é pegar e largar. Como pensar a experiência analítica num mundo sem rotinas, sem a regularidade do simbólico, sem o recurso ao pai, frente à inexistência do Outro? Que impasses e soluções a clínica tem testemunhado frente ao apagamento das identificações e a vacilação das ficções? Sem o recurso ao inconsciente transferencial quais têm sido as formas de encarnação do desejo apresentadas na experiência analítica hoje, ou seja, como o sujeito do inconsciente tem interpretado a sua época?

III - Todos adictos? Esse eixo recolherá os trabalhos que investigam se a adição generalizada é o modo contemporâneo de relação com o objeto e suas consequências na experiência analítica hoje. A promessa de felicidade, hoje, não encontra seu objeto nas prateleiras dos ideais e sim nas dos objetos para mais gozar. Por esse giro, caem as rotinas simbólicas operadoras do laço social e eleva-se a compulsão determinada pelo comando acéfalo do imperativo de gozo. Qualquer objeto pode ser uma droga, desde que sirva ao sujeito em sua experiência de iteração. Bem instalado, nesse contexto, está o discurso capitalista com o ciclo compulsivo de oferta/consumo dos objetos descartáveis. Na clínica a existência desse UM iterativo se constata e exige do analista uma nova visada. Como a psicanálise pode contribuir para o debate político sobre a adição generalizada, modelo da vida cotidiana do século XXI, época onde o Outro não existe?

IV - O que a criança ensina? Esse eixo dá passagem à criança como sujeito suposto saber da psicanálise, portadora de um saber autêntico e não objeto de saber das políticas que seguem um modelo homogêneo de “identidade nacional”. A criança foi elevada ao topo das preocupações das políticas de gestão – objeto precioso da nossa época. O discurso do interesse maior da criança, nos campos onde a criança está em questão, tem sido razão de controvérsias insolúveis. Projetos e soluções institucionais, no campo da educação, saúde e justiça, dentre outros, ao visar o bem da criança e a sua proteção realizam o pior. A contenção química, através da medicalização generalizada da infância, os tratamentos de controle do comportamento e protocolos classificatórios ou mesmo a sua contenção institucional através da internação compulsória são algumas das respostas dessa época frente à criança-exceção à regra. A política da psicanálise está orientada quanto ao fato de que a criança é “um sujeito em pleno exercício”, cujo saber é respeitado em sua relação com o gozo que o envelopa e anima. Aguardamos os trabalhos em condições de constatar o que a criança ensina sobre os impasses que não cessam de interrogar a política da homogeneização dos modos de gozo.

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INFORMAÇÕES SOBRE APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS

ENVIO DOS TRABALHOS

Período: 1° a 20 de agosto de 2012

Responsável pelo recebimento: Lilany Pacheco

E-mail: lilanypacheco@yahoo.com.br

A seleção dos trabalhos será realizada pela comissão cientifica.

FORMATO: Solicita-se que cada trabalho, privilegiando situações ou casos clínicos, apresente claramente a indicação quanto a qual dos quatro eixos propostos ele se refere; o número máximo de caracteres é 7000, incluindo espaços e notas, na fonte Times New Roman.

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