13 de outubro de 2009



nº 38
Ano 6
SETEMBRO DE 2009

ISSN 2175-1579

Editorial


Latusa digital 38 é um número especial que traz para seus leitores três trabalhos apresentados em um seminário anglofônico organizado por Marie-Hélène Brousse, a pedido Jacques-Alain Miller, para que se retome o sintagma, criado por ele, psicose ordinária que se inseriu no programa de pesquisa do Campo freudiano.

Marie-Hélène Brousse apresenta, em sua esclarecedora explanação, vários pontos concernentes a esse sintagma que contempla fatos clínicos que, embora mostrem um deslocamento do eixo da classificação clínica que se apóia em um elemento organizador das estruturas, são pertinentes à teorização de Lacan posta em vigor desde o Seminário 20. A psicose ordinária caracteriza- se por não responder aos significantes- mestres tradicionais, manifesta, assim, o fim do significante Nome-do-Pai como único representante da lei simbólica, portanto, trabalha com sua pluralização e com a transformação do S1 em um enxame (essaim) de significantes, o que implica um conjunto não centralizado em um único elemento. Como ela diz, esse termo concerne à clínica “na medida em que está ligado ao discurso como modo de gozo e, ao mesmo tempo, à lógica da sexuação fundada sobre o 'não há relação sexual'”. Também, que se trata de trabalhá-lo em work in progress, e, nessa direção, ela responde à questão sobre considerar a psicose ordinária como uma psicose desencadeada ou não.

Pierre Skiabrine aborda a psicose ordinária do ponto de vista topológico, esclarecendo- a partir do nó borromeano, que Lacan utiliza para pensar a estrutura fora de uma referência ao Outro e a partir da heterogeneidade dos três registros real, simbólico e imaginário. Sobre a clínica diferencial, ele considera que, no lugar de uma fina distinção entre neurose e psicose, teríamos uma série de variações na estrutura do nó que poderia dar conta das neuroses e das psicoses na acepção tradicional, como das psicoses não desencadeadas e dos casos mais difíceis de classificar. Skiabrine nos fornece aí as bases de uma clínica diferencial referida ao nó boromeano e às suas suplências. Ele apresenta doze considerações que nos auxiliam a pensar. Dentre elas, a demonstração da necessária pluralização do Nome-do-Pai, sua primeira função de nomear (nommer-à) e o estatuto do objeto do delírio.

Véronique Voruz pensa a psicose ordinária como pertinente à época da democracia contemporânea. Sua hipótese de trabalho diz respeito à especificidade da inexistência do Outro, situada na conjunção inédita da ciência e do capitalismo, acarretar a determinação dos sujeitos como objetos. Como consequência, teríamos o desenvolvimento de modalidades sociais que permitiriam aos sujeitos gozar de suas posições de objeto. Ela explora ainda a caracterização de Lacan do meio como aletosfera, a ruptura do laço entre significante e significado no discurso da ciência, e ressitua a inexistência do Outro na terminologia Nome-do-Pai em sua definição clássica.
Convido então todos a uma excelente leitura!
Maria Angela MaiaEditora de Latusa


Neste número:





A psicose ordinária à luz da teoria lacaniana do discurso - Marie-Hélène Brousse


A psicose ordinária do ponto de vista borromeano - Pierre Skriabine


Democracia e psicose ordinária - Véronique Voruz

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